A Ética da Inteligência Artificial no Jornalismo e na Rádio Crónicas da Rádio Notícias Novembro 15, 2024Novembro 22, 2024 Esta semana, tive o privilégio de participar na Web Summit, um dos maiores encontros de inovação tecnológica do mundo, que decorreu em Lisboa. Entre os inúmeros debates sobre o futuro da tecnologia, houve um tema que me fez refletir profundamente: a ética no uso da inteligência artificial, especialmente no jornalismo e na rádio. A IA está a transformar a forma como consumimos e produzimos informação. Ferramentas avançadas são agora capazes de gerar textos, editar áudio e até criar vozes artificiais quase indistinguíveis das humanas. No jornalismo, os algoritmos podem analisar dados em segundos, identificar tendências e criar conteúdos que antes exigiriam horas ou dias de trabalho. Na rádio, a IA promete revolucionar a programação, oferecendo playlists personalizadas, automatizando anúncios e até criando “locutores virtuais”. Mas, ao mesmo tempo que nos maravilhamos com estas possibilidades, é crucial perguntar: onde está o limite ético? Como garantir que estas ferramentas são usadas para informar e entreter, e não para manipular ou desinformar? No jornalismo, a busca pela verdade deve ser sagrada. No entanto, a facilidade com que a IA pode gerar conteúdo levanta preocupações. Um artigo ou uma notícia criada por um algoritmo pode ser eficiente, mas estará imbuída do contexto humano, da empatia e da responsabilidade que um jornalista traz ao seu trabalho? E quem será responsabilizado se a IA publicar algo falso ou enganador? Na rádio, a questão é igualmente complexa. A criação de vozes artificiais pode ser fascinante, mas não podemos esquecer que a autenticidade é o coração da comunicação radiofónica. A rádio é um espaço de proximidade, onde o ouvinte sente que há uma pessoa do outro lado, partilhando experiências e emoções. Se substituirmos essa voz humana por uma criação artificial, estaremos a comprometer essa ligação única? Outro ponto que me inquieta é o impacto no emprego. À medida que a IA se torna mais sofisticada, há o risco de que funções jornalísticas e radiofónicas sejam automatizadas, reduzindo a presença humana nas redações e estúdios. Como garantir que esta transição tecnológica não se torne uma ameaça, mas uma oportunidade para reforçar a qualidade e a diversidade do conteúdo? A ética na IA não é um tema abstrato. É uma questão que nos desafia a todos – diretores, jornalistas, radialistas, programadores e ouvintes. Precisamos de regras claras que protejam os valores fundamentais da informação e da comunicação. Precisamos de transparência no uso destas ferramentas e, acima de tudo, de um compromisso com a verdade e com a humanidade. Na Web Summit, ficou claro que a tecnologia está a avançar a uma velocidade estonteante. Mas também ficou evidente que temos o poder – e o dever – de moldar o seu futuro. E esse futuro, se for ético, será verdadeiramente humano. O desafio está lançado. A pergunta que deixo no ar é esta: conseguiremos abraçar a inteligência artificial sem perder aquilo que nos torna humanos? Fica a reflexão. Nota final: Esta semana, o mundo da rádio portuguesa despediu-se de uma figura incontornável: o engenheiro Fernando Magalhães Crespo, presidente emérito do Grupo Renascença Multimédia, que faleceu aos 94 anos. Durante as décadas em que liderou o grupo, entre 1974 e 2005, foi responsável pela expansão e modernização da Rádio Renascença e pela criação de estações icónicas como a RFM e a Mega Hits, contribuindo para moldar o panorama radiofónico português. Mas o engenheiro Magalhães Crespo não foi apenas um líder visionário do Grupo Renascença; foi também um pilar da ARIC. A sua dedicação à promoção dos valores cristãos na comunicação marcou a missão da ARIC e inspirou todos os seus associados. Magalhães Crespo acreditava profundamente no poder da rádio como instrumento de serviço e proximidade, e foi um defensor incansável da liberdade de expressão, do compromisso com a verdade e da defesa das rádios de proximidade. Para a ARIC, o engenheiro Magalhães Crespo foi mais do que um líder; foi um exemplo de integridade e um guia. O seu legado é uma fonte de inspiração para todos nós que trabalhamos no setor. A sua visão continuará a orientar os caminhos da rádio em Portugal. À família e amigos, deixo, uma vez mais, as mais sentidas condolências. Que a memória e o trabalho de Fernando Magalhães Crespo continuem a ser honrados. Que descanse em paz. Nuno Cruz Inácio Presidente da Direção da ARIC Share on Facebook Share Share on TwitterTweet Share on Pinterest Share Share on LinkedIn Share Share on Digg Share