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A Ética da Inteligência Artificial no Jornalismo e na Rádio

Esta semana, tive o privilégio de participar na Web Summit, um dos maiores encontros de inovação tecnológica do mundo, que decorreu em Lisboa. Entre os inúmeros debates sobre o futuro da tecnologia, houve um tema que me fez refletir profundamente: a ética no uso da inteligência artificial, especialmente no jornalismo e na rádio.
A IA está a transformar a forma como consumimos e produzimos informação. Ferramentas avançadas são agora capazes de gerar textos, editar áudio e até criar vozes artificiais quase indistinguíveis das humanas. No jornalismo, os algoritmos podem analisar dados em segundos, identificar tendências e criar conteúdos que antes exigiriam horas ou dias de trabalho. Na rádio, a IA promete revolucionar a programação, oferecendo playlists personalizadas, automatizando anúncios e até criando “locutores virtuais”.
Mas, ao mesmo tempo que nos maravilhamos com estas possibilidades, é crucial perguntar: onde está o limite ético? Como garantir que estas ferramentas são usadas para informar e entreter, e não para manipular ou desinformar?
No jornalismo, a busca pela verdade deve ser sagrada. No entanto, a facilidade com que a IA pode gerar conteúdo levanta preocupações. Um artigo ou uma notícia criada por um algoritmo pode ser eficiente, mas estará imbuída do contexto humano, da empatia e da responsabilidade que um jornalista traz ao seu trabalho? E quem será responsabilizado se a IA publicar algo falso ou enganador?
Na rádio, a questão é igualmente complexa. A criação de vozes artificiais pode ser fascinante, mas não podemos esquecer que a autenticidade é o coração da comunicação radiofónica. A rádio é um espaço de proximidade, onde o ouvinte sente que há uma pessoa do outro lado, partilhando experiências e emoções. Se substituirmos essa voz humana por uma criação artificial, estaremos a comprometer essa ligação única?
Outro ponto que me inquieta é o impacto no emprego. À medida que a IA se torna mais sofisticada, há o risco de que funções jornalísticas e radiofónicas sejam automatizadas, reduzindo a presença humana nas redações e estúdios. Como garantir que esta transição tecnológica não se torne uma ameaça, mas uma oportunidade para reforçar a qualidade e a diversidade do conteúdo?
A ética na IA não é um tema abstrato. É uma questão que nos desafia a todos – diretores, jornalistas, radialistas, programadores e ouvintes. Precisamos de regras claras que protejam os valores fundamentais da informação e da comunicação. Precisamos de transparência no uso destas ferramentas e, acima de tudo, de um compromisso com a verdade e com a humanidade.

Na Web Summit, ficou claro que a tecnologia está a avançar a uma velocidade estonteante. Mas também ficou evidente que temos o poder – e o dever – de moldar o seu futuro. E esse futuro, se for ético, será verdadeiramente humano.
O desafio está lançado. A pergunta que deixo no ar é esta: conseguiremos abraçar a inteligência artificial sem perder aquilo que nos torna humanos? Fica a reflexão.

Nota final:
Esta semana, o mundo da rádio portuguesa despediu-se de uma figura incontornável: o engenheiro Fernando Magalhães Crespo, presidente emérito do Grupo Renascença Multimédia, que faleceu aos 94 anos. Durante as décadas em que liderou o grupo, entre 1974 e 2005, foi responsável pela expansão e modernização da Rádio Renascença e pela criação de estações icónicas como a RFM e a Mega Hits, contribuindo para moldar o panorama radiofónico português.
Mas o engenheiro Magalhães Crespo não foi apenas um líder visionário do Grupo Renascença; foi também um pilar da ARIC. A sua dedicação à promoção dos valores cristãos na comunicação marcou a missão da ARIC e inspirou todos os seus associados. Magalhães Crespo acreditava profundamente no poder da rádio como instrumento de serviço e proximidade, e foi um defensor incansável da liberdade de expressão, do compromisso com a verdade e da defesa das rádios de proximidade.
Para a ARIC, o engenheiro Magalhães Crespo foi mais do que um líder; foi um exemplo de integridade e um guia. O seu legado é uma fonte de inspiração para todos nós que trabalhamos no setor. A sua visão continuará a orientar os caminhos da rádio em Portugal.
À família e amigos, deixo, uma vez mais, as mais sentidas condolências. Que a memória e o trabalho de Fernando Magalhães Crespo continuem a ser honrados. Que descanse em paz.
Nuno Cruz Inácio
Presidente da Direção da ARIC

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