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A Importância das Rádios Locais em Cenários de Catástrofe

Com a intensificação de desastres naturais, torna-se claro o papel das rádios locais como um meio crucial de comunicação em situações de emergência, especialmente quando a tecnologia moderna falha. Exemplo recente ocorreu em Espanha, onde as inundações da última semana causaram destruição, perdas humanas e interrupções nas comunicações, devido à quebra da rede elétrica e ao colapso das redes de telecomunicações. A única que esteve sempre lá foi a “velhinha” rádio… Isto apesar de as informações nunca terem chegado por falta de coordenação e planeamento das autoridades.
Ao contrário do que sucedeu em Espanha, durante as inundações devastadoras que atingiram as regiões de Renânia-Palatinado e Renânia do Norte-Vestfália em 2021, as rádios locais, como a SWR, foram essenciais ao informar a população sobre a necessidade de evacuação, as áreas de risco e ou as rotas mais seguras a seguir na evacuação. A colaboração entre as rádios e as autoridades locais garantiu uma disseminação rápida e confiável das instruções, permitindo que os moradores tomassem medidas preventivas e se deslocassem para áreas mais seguras.
É obvio que as coisas só correram bem porque os diversos governos regionais da Alemanha já tinham investido fortemente nos sistemas de emergência das rádios e sempre consideraram as rádios como parte fundamental dos seus planos de contingência.
E esse investimento tinha já dado frutos em casos como as cheias de 2002 e 2013 onde as redes de comunicações tinham colapsado tornando a rádio no único meio ligeiro de comunicação entre as autoridades e as populações.
Recorde-se que mesmo quando há quebra de energia ou falhas nas redes de comunicações, os rádios a pilhas e dos carros, por exemplo, ainda conseguem captar sinais de rádio, tornando as rádios no meio de comunicação mais resiliente e menos dependentes de infraestruturas de terceiros.
Em Portugal, no já longínquo ano de 1998, o Governo lançou um programa que previa apoio às rádios locais para equipá-las com geradores elétricos, assegurando a continuidade das emissões em cenários de catástrofe. Contudo, 26 anos depois, a maioria das rádios nunca recebeu os recursos prometidos, comprometendo a sua capacidade de operar em emergências, onde a comunicação com as comunidades é vital para salvar vidas.
Para além disso, muitas das autarquias do país, apesar de fazerem fortes investimentos em Proteção Civil, não colocam as rádios locais nos seus projetos de investimento nesta área.
Bem sei que um autarca a limpar uma rua depois das cheias dará fotos mais virais do que a entregar dois ou três geradores a uma rádio local… Mas seguramente que o investimento nos geradores poupará muito mais vidas…
Portugal precisa de fortalecer as rádios locais, garantindo assim que estas podem cumprir o seu papel fundamental de informar e proteger as comunidades, especialmente em momentos de crise. O recente exemplo espanhol deve servir de alerta para a necessidade urgente de apostar seriamente na prevenção sob pena de voltarmos a chorar mortes desnecessárias.
Como diria uma das nossas associadas, “Vale a pena pensar nisto”…
Nuno Cruz Inácio
Presidente da Direção da ARIC

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