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A Rádio: O Último Bastião de Acesso Universal à Informação em Portugal

Em Portugal, a rádio privada destaca-se como o único meio de comunicação social gratuito e universal. Num momento em que o acesso à informação está cada vez mais condicionado a subscrições e pagamentos, a rádio permanece como um oásis do acesso à informação. Numa era de crescimento das plataformas pagas, o acesso a notícias e conteúdos diversificados sem custo direto é essencial para garantir que toda a população esteja informada, independentemente de sua condição socioeconômica.

Atualmente, 94% dos portugueses acedem à televisão através de serviços pagos, os jornais impressos têm um custo de compra ou assinatura e os jornais online exigem não só uma assinatura em muitos casos, mas também uma ligação à internet, que tem seus custos próprios. Essa realidade exclui cerca de 15% da população com mais de 15 anos, que simplesmente não dispõe dos meios para consumir esses conteúdos. E é aqui que a rádio se torna indispensável.

A rádio, presente em cada recanto de Portugal, chega à totalidade do território nacional sem barreiras econômicas ou tecnológicas que impeçam o seu acesso. Esta abrangência territorial e acessibilidade fazem dela uma ferramenta essencial para a coesão social e territorial do país. A rádio continua a informar, educar, entreter e unir a população, desempenhando um papel cívico que transcende a simples comunicação.

Contudo, mesmo com toda a sua importância, a rádio enfrenta desafios estruturais que comprometem sua sustentabilidade. Ao contrário de outros meios de comunicação que contam com avultados subsídios e apoios financeiros, a rádio privada não recebe nenhum tipo de incentivo público para manter sua distribuição ou para a produção de conteúdos de qualidade. Essa falta de apoio coloca em risco sua capacidade de se adaptar aos novos tempos, num mercado onde a sobrevivência depende exclusivamente do meio publicitário.

O Orçamento de Estado para 2025, recentemente apresentado, continua sem trazer qualquer novidade para o setor, mantendo a mesma postura dos governos anteriores. Esta ausência de políticas públicas para a rádio revela uma falta de visão estratégica para um setor que, além de representar o último bastião de acesso gratuito à informação, desempenha papéis fundamentais nas comunidades locais.

É importante lembrar que algumas das rádios locais são detidas por corporações de bombeiros ou Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS’s). Este fato, por si só, reforça a relevância da rádio local como um ativo comunitário essencial, especialmente em regiões mais isoladas. Estas rádios de proximidade representam muito mais do que um canal de entretenimento e informação; elas são parte integrante da vida comunitária, oferecendo uma plataforma para o debate local, campanhas de interesse público e informações críticas em momentos de emergência.

Se a rádio é a única a garantir o acesso universal e gratuito à informação, então não seria justo esperar que o Estado e a sociedade civil reconhecessem essa missão e a apoiassem de forma efetiva? Afinal, garantir a sobrevivência da rádio é assegurar que a informação continue a chegar a todos os portugueses, sem discriminação. É hora de reavaliar o papel da rádio privada em Portugal e garantir que ela continue a ser uma voz ativa, presente e livre para todos.

Nuno Cruz Inácio
Presidente da Direção da ARIC

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